Verdadeiramente, apenas as criancinhas entrarão no Céu.
Bernard de Clairvaux
O Traço Principal é "a maneira fundamental pela qual as pessoas veem
a si mesmas e o mundo, e ele as afeta praticamente em todas as suas ações"
(Girard Haven). A palavra fundamental não
é escolhida por acaso. Cada um de nós tem um traço principal, uma fraqueza
principal, que constitui o eixo em torno do qual gira o nosso ser inferior e
sua falsa imagem de quem somos. Nós não estamos falando da fachada de alguns
aqui, de alguma excentricidade ou brilhante ornamento em nossa projeção
psicológica. Nós estamos falando sobre a profunda estrutura subjacente, a fundação
básica, as paredes principais de apoio, as vigas e a cola existencial do ser
inferior.
O que é
importante não é o próprio traço
principal, mas o que é produzido por
ele,
e que você pode estudar na forma das atitudes.
PD Ouspensky
e que você pode estudar na forma das atitudes.
PD Ouspensky
O Traço Principal é a característica que é muitas vezes
determinada por nosso tipo de corpo—este, um estudo separado em si mesmo. Mas, em linhas
gerais, esta característica determina como vemos o que é mais e menos importante, o que é para ser admirado na vida, como vemos os que supostamente
são mais fracos ou mais fortes do que nós, como reagimos em situações diferentes, se buscarmos ou evitamos o confronto, ou se queremos ser o centro das atenções, o
que desencadeia nossas emoções negativas favoritas, e assim por diante. É a nossa atitude emocional em relação a nós mesmos, o modo fundamental com o qual pensamos sobre
nós mesmos e a vida. E nós não o vemos porque estamos imersos nele.
Além do traço principal, temos um ou dois outros traços que apoiam e
fornecem amortecedores para ele (amortecedores são mecanismos internos que impedem
de vermos a verdade sobre nós mesmos). Por exemplo, o traço de ´vagabundo´
(ausência de valores) pode funcionar bem com o traço de medo. Essencialmente, na
origem, temos medo de fazer alguma coisa. Mas ao invés de ver essa verdade
desagradável em um momento particular, nós escorregamos imperceptivelmente para
a atitude subjacente: "Bem, não vale a pena fazer isso, de qualquer
maneira."
E para todos nós:
A vaidade é um traço forte
em cada pessoa. Se não for o traço principal,
será o segundo traço de todos.
Robert Earl Burton
será o segundo traço de todos.
Robert Earl Burton
Qualquer coisa que amortece os objectivos e padrões de nossos traços
pode desencadear nossas emoções negativas. Esta é a relação entre os traços e a
negatividade: nossas atitudes. Os traços determinam as atitudes, e estas, por
sua vez determinam nossas emoções negativas. Quando não conseguimos o que as
atitudes querem, ou quando conseguimos o que não querem, a negatividade se seguirá.
O que é incrível é que, apesar de usurpar nossas vidas e funções, e o nosso
sentimento de nós mesmos, o traço principal
é precisamente o que nós não
somos.
O
traço principal ocupa o espaço que
de direito pertence à lembrança de si.
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
Nossa resposta natural a este conhecimento, claro que é ficarmos intrigados; nós imediatamente queremos saber qual é o nosso
traço principal. No entanto, mesmo se alguém nos disser, isso pode não ajudar
muito. O nome é apenas um rótulo, um mnemônico para um grande país
desconhecido. É necessário ver por
nós mesmos, através de paciente observação, as ramificações de nossas
características, as atitudes que elas determinam, e como estas estão ligadas às
nossas respostas automáticas e às emoções negativas favoritas. E assim como
Goethe conduziu seu estudo das cores— em profunda exaustiva prática, com base na qual ele podia realmente ver com seus próprios olhos —é preciso evitar cuidadosamente se perder ao manipular ideias ou tirar
conclusões precipitadas. O método de Goethe nos mostra como trabalhar: Observar.
Evitar a análise. Manter-se no presente. No trabalho do Quarto Caminho, nós não
pensamos e extrapolamos o nosso caminho para o entendimento: tentamos
permanecer aqui e agora, vendo, e deixando que a compreensão venha quando vier.
Quando você
entra no caminho ... começa a
ganhar controle
sobre o seu traço principal. Antes de entrar no caminho,
sobre o seu traço principal. Antes de entrar no caminho,
o traço principal controla
você.
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
A primeira etapa do trabalho com os traços é tentar observar e neutralizar
as atitudes que se originam a partir deles, as que provocam as emoções
negativas recorrentes. Pergunte a si mesmo em meio a uma emoção negativa
favorita: "Qual atitude é mais elevada agora?" Sabendo qual atitude
está produzindo a negatividade, podemos trabalhar na criação de contra-atitudes
-solventes, como Ouspensky as chamou - para dissolver as atitudes destrutivas e
reestabelecer a presença.
A consideração externa é um dos melhores remédios para os nossos traços.
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
Nós também podemos nos aproximar dos traços por outro ângulo. Os traços estão muito preocupados com seus próprios objetivos, para conseguir ficar de fora de uma situaçao e ver o que é o melhor para si mesmo e para o outro. Se o nosso traço de vaidade considera uma pessoa insignificante e não suficientemente importante para ter nossa atenção, temos de fazer um esforço para considerá-la. Se o nosso pretenso modo é forçar tudo (traço de poder), então vamos tentar controlar e manipular os outros a fazerem o que queremos, independentemente de como eles se sentem. Como o traço se manifesta no sono não se pode considerar externamente os outros, então, a consideração externa é uma maravilhosa maneira de deixar entrar luz em nosso mundo interior. O que a outra pessoa precisa? O que esta situação realmente requer?
Conforme o entendimento se aprofunda, nós gradualmente vemos que o traço
principal permeia nossos centros como um
corante. Esta não é uma peculiaridade menor ou um mau hábito que podemos
simplesmente decidir mudar e, num piscar de olhos, ele se vai. Toda a modalidade
do nosso pensamento, o tom de nossas reações emocionais, o estilo e as posturas
de nossos movimentos, como entramos ou saimos de uma sala, como interagimos com
os outros e conduzimos os relacionamentos - cada recesso e rachadura nas
manifestações de nossas funções é colorido por nossa característica principal. Ela é o
ator principal controlando nossas vidas.
Em certo ponto, ficamos horrorizados com a enormidade da tarefa. O traço
principal, como observou Ouspensky, sempre
toma as decisões. A cada momento,
estamos tomando decisões, tranquilamente dormitando nos muitos 'eus' - só que
não somos nós que tomamos as decisões, é o traço principal.
O traço
principal é feroz, insaciável.
Se controlamos o traço principal estamos vivos e despertos; e se somos controlados por ele, estamos dormindo e no limbo.
É uma
situação de vida ou morte.
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
Começamos a nos sentir
impotentes, trancados em uma batalha com um inimigo implacável, afogando na tintura da nossa
atitude emocional em nós mesmos –
e simplesmente não conseguimos ver e nos livrar disso.
Curiosamente, é exatamente isso o que Gurdjieff
disse a Ouspensky ao falar sobre característica principal:
O estudo da fraqueza principal e a luta contra ela constitui ... o
caminho individual de cada homem, mas o objetivo deve ser o mesmo para todos.
Este objectivo é a percepção da nulidade de cada um.
G. I. Gurdjieff
G. I. Gurdjieff
Libertar-nos das garras das emoções negativas impulsionadas pelos traços
é um importante caminho para a
libertação de nossa essência, que não pode se manifestar e crescer em um
ambiente interno negativo. A essência é a ponte fundamental para os centros
superiores, para as nossas possibilidades reais. Não é algo de que podemos
escapar. E quando nos encontramos lutando com o traço principal, pode ocorrer uma suave chamada para
a nossa essência, o simples sussurro angelico interno da palavra CHILD (Criança), com o seu convite para estarmos
abertos à alegria do momento como estão as crianças, um convite para largar a
frágil postura dos traços e
amortecedores e deixar o presente nos inundar—esta chamada pode cortar o absurdo
da direção inesperada e elevar o nosso estado. Em vez de confrontar o traço e
tentar derrubá-lo, o gentil sussurro Child,
habilmente desvia a nossa atenção para um outro plano: descontraído e prazerosamente
aberto ao momento. Este é o caminho do homem esperto. Em vez de fortalecer o
nosso inimigo brigando com ele no porão do nosso ser - e, assim, tornando-o
mais real do que é—Child transforma-nos e nos ergue para o telhado onde temos uma visão clara do
céu azul.
Essencialmente, a fim de despertar,
deve-se continuar olhando para o alto e não para baixo.
Robert Earl Burton
deve-se continuar olhando para o alto e não para baixo.
Robert Earl Burton
R.H.
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