sexta-feira, 24 de março de 2017

Essência e Personalidada


A parte em nós que pode estar presente e transcender conscientemente a si mesmo chamamos de essência. Essência é quem somos quando nascemos: nossa química corpórea, a maneira como respondemos ao mundo exterior, nossas tendências e talentos, ou seja, todas as características inatas, físicas ou psicológicas, exibidas pelo indivíduo. A essência vê o que está ao seu redor, não é pretensiosa ou preocupada com a própria imagem. Não vive para o amanhã e extrai de cada momento suas oportunidades, alegrias e interesses.
Se a essência é tudo o que é inato, a personalidade é tudo o que aprendemos e adquirimos. A personalidade verdadeira é aquela que leva ao desenvolvimento das qualidades e vocações da essência, sendo adquirida no meio familiar, social e cultural com a finalidade de educar, lapidar e dotar a essência de uma forma de expressão. A essência não pode ir muito longe sem as possibilidades e recursos trazidos pela personalidade.
No entanto, o que mais comumente ocorre é a predominância da personalidade sobre a essência, principalmente em situações urbanas, em que o indivíduo tem certo grau de educação, assiste televisão e lê jornais. Nesse caso, ele passa a adquirir gostos e inclinações que, além de não corresponderem à sua essência, podem até mesmo danificá-la. O inculcamento de valores neste processo, estimulado pela busca de prestígio, sucesso, segurança financeira, leva o indivíduo a abdicar da sua própria essência e canalizar sua energia para o desenvolvimento de uma personalidade falsa que se antecipa à essência e passa a se manifestar de forma independente e em oposição a ela. Assim, o indivíduo fica artificialmente complicado e perde o contato com a sua natureza verdadeira. Ao contrário da essência, que é calma, tímida, suave e gentil, a falsa personalidade é óbvia, complicada e estridente.
Um momento muito importante no trabalho em si mesmo é quando o homem começa a resgatar a sua essência. O seu ‘eu’ real, a sua individualidade, pode crescer apenas a partir desse tipo de trabalho, que pressupõe observação e estudo de si mesmo. Neste processo, a lembrança de si manifesta-se como a essência ciente de si mesmo. Para que a essência seja capaz de crescer, é necessário desenvolver uma personalidade verdadeira que possa servi-la. Para isso, a personalidade deve tornar-se passiva, ao mesmo tempo em que a essência deve tornar-se ativa. Nesse sentido, crescimento interior pressupõe a personalidade verdadeira desenvolvendo ‘eus’ de trabalho e a essência desejando estar presente.
Para recuperar a simplicidade da essência, temos que nos livrar de tudo que é desnecessário. Temos que recuperar aquele estado original de pureza e alegria que tínhamos na nossa tenra infância. No entanto, não se pode fazer esse tipo de trabalho sozinho. A ajuda de um professor e de outros estudantes em um ambiente de escola de consciência é fundamental.

Aurora Q.