A parte
em nós que pode estar presente e transcender conscientemente a si mesmo
chamamos de essência. Essência é quem somos quando nascemos: nossa química
corpórea, a maneira como respondemos ao mundo exterior, nossas tendências e
talentos, ou seja, todas as características inatas, físicas ou psicológicas,
exibidas pelo indivíduo. A essência vê o que está ao seu redor, não é
pretensiosa ou preocupada com a própria imagem. Não vive para o amanhã e extrai
de cada momento suas oportunidades, alegrias e interesses.
Se a
essência é tudo o que é inato, a personalidade é tudo o que aprendemos e
adquirimos. A personalidade verdadeira é aquela que leva ao desenvolvimento das
qualidades e vocações da essência, sendo adquirida no meio familiar, social e
cultural com a finalidade de educar, lapidar e dotar a essência de uma forma de
expressão. A essência não pode ir muito longe sem as possibilidades e recursos
trazidos pela personalidade.
No
entanto, o que mais comumente ocorre é a predominância da personalidade sobre a
essência, principalmente em situações urbanas, em que o indivíduo tem certo
grau de educação, assiste televisão e lê jornais. Nesse caso, ele passa a
adquirir gostos e inclinações que, além de não corresponderem à sua essência, podem
até mesmo danificá-la. O inculcamento de valores neste processo, estimulado
pela busca de prestígio, sucesso, segurança financeira, leva o indivíduo a
abdicar da sua própria essência e canalizar sua energia para o desenvolvimento
de uma personalidade falsa que se antecipa à essência e passa a se manifestar
de forma independente e em oposição a ela. Assim, o indivíduo fica
artificialmente complicado e perde o contato com a sua natureza verdadeira. Ao
contrário da essência, que é calma, tímida, suave e gentil, a falsa
personalidade é óbvia, complicada e estridente.
Um
momento muito importante no trabalho em si mesmo é quando o homem começa a
resgatar a sua essência. O seu ‘eu’ real, a sua individualidade, pode crescer
apenas a partir desse tipo de trabalho, que pressupõe observação e estudo de si
mesmo. Neste processo, a lembrança de si manifesta-se como a essência ciente de
si mesmo. Para que a essência seja capaz de crescer, é necessário desenvolver
uma personalidade verdadeira que possa servi-la. Para isso, a personalidade
deve tornar-se passiva, ao mesmo tempo em que a essência deve tornar-se ativa.
Nesse sentido, crescimento interior pressupõe a personalidade verdadeira
desenvolvendo ‘eus’ de trabalho e a essência desejando estar presente.
Para recuperar a simplicidade da essência, temos
que nos livrar de tudo que é desnecessário. Temos que recuperar aquele estado
original de pureza e alegria que tínhamos na nossa tenra infância. No entanto,
não se pode fazer esse tipo de trabalho sozinho. A ajuda de um professor e de
outros estudantes em um ambiente de escola de consciência é fundamental.Aurora Q.