quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Qual é o sabor da realidade?

Cada momento é fresco. Nós compreendemos isso quando estamos presentes. Essa fina lâmina de presença nos separa do passado e do futuro. O que pode nos ajudar a ficar nesta borda e permanecer acordados?

No mundo natural ao qual pertencemos, nenhuma árvore, pássaro ou respiração permanecem inalterado de um momento para o outro. Da mesma forma estamos em um fluxo, com diferentes estados de humor, movimentos e desejos que balançam nossa atenção. Observando nossa multiplicidade pode criar a tensão necessária para permanecer acordados, a luta entre o 'sim' e o 'não' que Gurdjieff achou tão vital.

Sem luta não há progresso nem resultado.
Cada interrupção de hábito produz uma mudança na máquina.
"
Gurdjieff, Vistas do Mundo Real

Ter um objetivo é uma boa maneira nos de ver a nós mesmos, as nossas diferentes partes e seus interesses diversos. Podemos colocar despertadores simples para acordar, assim como começar o dia com um esforço para dividir nossa atenção, evitando o açúcar ou uma segunda xícara de café, ou estando presentes a cada telefonema. Um objectivo coloca em evidência a nossa falta de unidade, e nos impulsa a despertar quando nos lembramos dele. O trabalho sobre a consciência é também o trabalho sobre a vontade, onde devemos nos negar o que não pertence ao nosso objetivo, onde juntamos o que nos rodeia, aqui, agora.

"Onde você vai quando você deixa a si mesmo?" Bernard of Clairvaux

Retornando à ponta de faca de atenção é o primeiro passo. Mesmo que um estudante do Quarto Caminho desenvolva ferramentas para compreender seu mundo subjetivo interior, é o mundo real que finalmente nos atrai quando estamos prontos. A realidade  pressiona, acabando com nossos preconceitos com a carga do momento presente.

Testemunhando a realidade do momento presente, podemos permanecer na ponta da faca.

A realidade é tocada tanto pelo tempo com por aquilo além do tempo, e estar presente a um momento no tempo é a porta para a realidade

"O fogo por meio do qual a fusão é atingida é produzido pela ‘fricção’, que por sua vez é produzida no homem pela luta entre o 'sim' e o 'não'. Se um homem abre mão a todos os seus desejos, ou ceder a eles, não haverá luta interna nele, não haverá ‘fricção’, não haverá fogo. Mas se, para alcançar um objetivo definido, ele lutar com os desejos que o impedem, ele irá criar o fogo que gradualmente transformará seu mundo interior em um todo único".
                                                                                        Peter Ouspensky, Em Busca da Milagroso
Rowena L

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Despertar através da Lembrança de Si



As escolas esotéricas através da historia reconheceram o caos da condição humana e têm procurado fornecer meios para se escapar dele. A solução não é uma mudança quantitativa, mas qualitativa. Não é uma questão de esforçar-se para experimentar mais amor ou alegria ou bondade, mas de tornar-se uma ordem diferente da criação.

Em nosso estado “normal” de sono desperto, vivemos uma existência animal imaginando que somos humanos. Porém temos o potencial de purificar nosso coração para atingir a verdadeira existência humana, e desenvolver consciência para alcançar a existência divina. Esta é a viagem final para um ser humano. Há um vasto espectro de consciência no universo, que vai desde a consciência de uma rocha até a do Absoluto. A extensão potencial de consciência em um ser humano também é vasta. A consciência em um homem ou mulher pode ser estimulada a se aproximar do divino.

Com um trabalho preciso e adequado, a  consciência  mais elevada pode começar a surgir em lampejos dentro de nós, e, finalmente, se tornar permanente. Quando descobrimos esse estado de consciência - de presença divina - encontramos a fonte do verdadeiro amor, alegria e bondade.

 “A chave para todos os problemas é o problema da consciência.”

Antigos Textos Egípcios

O primeiro passo é compreeder a consciência, e começar a entender o que  não é consciência.
A consciência não é as funções: não é movimento, sensação, sentimento ou pensamento. É um choque profundo verificar que se pode agir, mover e falar e experimentar emoções, sem consciência. Nós estabelecemos metas sinceras, e as esquecemos; nós ferimos, sem querer, aqueles que amamos; nós viajamos e não lembramos da viagem. Nossa consciência não é única, mas múltipla, fragmentada em meio às funções conpetitivas.

Como é que começamos a forjar uma consciência unificada? Todas as escolas ensinam o mesmo esforço, que no Quarto Caminho é chamado de lembrança de si. Esta é uma disciplina interior, onde se vigia a mente e o coração, e o corpo, é se está separado deles, ciente deles, e ciente de si mesmo observando-os. A lembrança de si não depende especificamente das circunstancias ou condições. Ela pode ser aplicada a qualquer momento de sua vida, quer seja um momento significativo ou ordinário, para trazer a consciência para o que se está fazendo.

Trabalhar para lembrar-se de si requer trabalhar no coração. Nossos corações não treinados estão imersos em paixões descontroladas e destrutivas e emoções negativas que nos perseguem incansavelmente ao longo de nossas vidas. Através de  disciplinas de escola, o coração pode ser treinado para ganhar  força e vontade necessárias para nutrir e proteger a divina presença sem palavras.Quando nós purificamos o coração, nossa essência pode emergir. O real pode crescer apenas às custas do irreal.


“A Arte do Coração consiste em se manter o coração firmemente ancorado na paz e na justeza.
Não se deve deixar-se levar pelo tremor das paixões ou abandonar-se
aos desejos, nunca mitigados, dos sentidos."
Huang Di (Imperador Amarelo)


Como nós podemos dizer isto de uma maneira simples?

       Esteja onde você está, e tenha plena consciência do que você está fazendo. Esvazie seu coração das paixões e o preencha com o anseio pela união com o divino dentro de você. Encontre aqueles com os quais você possa compartilhar sua viagem.

O despertar é o Jogo Mestre. E o Jogo Mestre tem um método simples que é fácil de aprender, mas difícil de dominar. O método, lembrança de si, é invisível e portátil. Livre de condições externas e internas, a lembrança de si só tem uma condição: o seu sincero desejo de usá-la. É por isso que é tão urgente treinar o coração para desejar a presença. Juntos, esta trindade de consciência superior, coração, e método, trançam o tecido da presença divina. Com habilidade suficiente, o tecido torna-se puro ouro: a lembrança de si e o seu próprio Eu Superior se tornam permanentes.


"Deus [o Eu Superior] está sempre além da bondade, justeza, onisciência, é imutável,
 verdadeiro, invisível, intocável, inatingível, perfeito, além do ser, pleno de misericórdia,
pleno de compaixão e simpatia, a tudo rege, e tudo vê.”
Filocalia, Pedro de Damasco




KHB



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Evolução de uma Escola parte II



Focando as Chaves
Num certo momento, Robert disse “A decodificação dos sistemas esotéricos está agora ao nosso alcance. Eles são ocultos porque são escritos especificamente para as escolas. Não há mal-entendidos entre escolas. O conhecimento objetivo tem a mesma voz, mesmo separado por milênios.” Quando as chaves foram encontradas nos trabalhos egípcios, ele concluiu, “Seguimos os rios das escolas e alcançamos o grande oceano – o Egito.”
Nossa tarefa agora seria fazer tudo o que pudéssemos para compreender o que as escolas antes de nós – especialmente a escola original no Egito – já haviam alcançado.

Deparando-se com os Trinta “Eus” de Trabalho
Alguns meses mais tarde, em janeiro de 2005, alguém leu uma citação para Robert de um sufi, Attar sobre apenas trinta pássaros que alcançaram seu destino divino.
Ele suspeitou que escolas anteriores usaram tradicionalmente apenas trinta  *“eus” de trabalho. Robert tentou determinar o que os trinta poderiam ser e, em alguns meses, enquanto estava no Egito, ele organizou uma lista. Logo depois, a lista foi composta por palavras de uma silaba, quando Robert ouviu esta citação de Omar Khayham: “Não há mais que uma sílaba entre a dúvida e a certeza” – não há mais que um ‘eu’ de
trabalho de uma sílaba entre a imaginação e a presença.
Robert viu imediatamente a magnitude objetiva dos trinta ‘eus’ de trabalho. “Os trinta ‘eus’de trabalho são muito importantes,” disse ele “ Dê-lhes algum tempo e vocês verão como eles se tornarão uma parte muito importante de seu trabalho.
Uma qualidade peculiar desses trinta ‘eus’ de trabalho é que eles nos removem completamente do retrato imaginário de quem somos nós e nos trazem para a  realidade de quem somos nós”.
Com esse nível de simplicidade, Robert sentiu que acessamos a essência do sistema e a corrente das escolas conscientes. Ele então se concentrou em estudar a chaves da Antiga Escola Egípcia porque, como ele disse, o sistema foi aperfeiçoado na primeira escola do Egito. Eles foram os primeiros a definir precisamente o problema e a solução, e a sua apresentação das chaves tem a vantagem de ser a mais simples de todas as escolas. Seus símbolos – como os ‘eus’ de trabalho mínimos - ultrapassam os centros inferiores e vão diretamente à *essência e aos *centros superiores.”

O Achado da Sequência de Seis ‘Eus’ de Trabalho
Ao usar os trinta ‘eus’ de trabalho, Robert se deu conta que a questão não era ter ‘eus’ de trabalho indefinidamente, pois o *ser inferior acaba nos atraindo para longe desses esforços. Um objetivo mais realista é alcançar o *BE longo e deixar para trás todos os ‘eus’ - entrar em presença prolongada. Afinal de contas, este é o propósito dos ‘eus’ de trabalho.
Robert começou a fazer experimentos em atingir o BE longo em alguns passos e logo depois ouviu essa citação definitiva da Filocalia: “Atingimos a libertação do pecado (imaginação) em seis passos.” Ele então procurou a confirmação disso em outras escolas e encontrou exatamente a mesma coisa. Por exemplo, a pirâmide de seis degraus de Saqqara, a criação judaica do mundo em seis dias, seguida por um dia de descanso, Jesus subindo a montanha depois de seis dias e experimentando a transfiguração, e Maomé ascendendo os seis níveis de céu e atingindo o sétimo. Com isso, Robert formulou e refinou a *sequência.

Simplicidade e Dificuldade
Num momento durante a pesquisa, Asaf  leu para Robert uma passagem do livro Egípcio, Jornada ao Longo do Dia, que incluía a frase, “Reúna seus membros”. Robert repetiu-a: “Reúna seus membros”....re-member yourself (re-membrar, juntar os membros).” E então ele disse, “Portanto, a lembrança de si (self-remembering) - a idéia central do sistema – vem, afinal de contas, do Egito.”
Asaf respondeu que agora o que possuímos como uma escola não são mais apenas fragmentos e não é mais um ensinamento desconhecido. Robert concordou: “Sim,recebemos a graça de ir além da exposição fragmentária e recebê-la na sua forma completa. É surpreendente como sua forma completa foi preservada num fluxo ininterrupto de conhecimento esotérico, de escola para escola, por mais de 6000 anos.”
Robert observou mais tarde que “O sistema não é complicado. A sequência é sabedoria divina que engaja presença divina. A sequência localiza a presença.
Quando você faz uma sequência bem-sucedida que prolonga a presença, entende tudo sobre o Egito e as outras escolas.”
Ele também nos faz lembrar que há um preço alto a pagar - com um novo nível de esforço – por esse conhecimento sagrado: “É extremamente difícil ter um ‘eu’ de trabalho que engaje a presença. E em relação à sequência: É a mais difícil de todas as coisas. Parece ser fácil dizer seis sílabas, mas há uma enorme resistência do ser inferior. Existe uma emboscada em virtualmente cada um dos ‘eus’ da sequência.
Engajar e sustentar a presença requer tudo o que temos.”

Herdeiros de uma Tradição Consciente
“Pode ser,” disse Robert “que cada escola tenha que redescobrir as chaves. Não podemos ter certeza, mas, definitivamente, é assim que experimentamos a evolução. Também nos habilita a valorizar as chaves - o significado interno, esotérico - ainda mais, especialmente tendo trabalhado por três décadas sem elas.”
Agora que estamos em nossa quarta década, nos encontramos em alinhamento com a tradição consciente das escolas. De pé sobre seus ombros, e olhando para trás, temos uma visão ampla e sem precedentes de todas elas. Essa visão também oferece o insight único sobre a Antiga Escola Egípcia que primeiro compilou o sistema em sua forma esotérica.
Como diz Robert, “Tudo já foi dito e feito pelas escolas que nos precederam. Agora é nossa tarefa nos elevarmos ao seu nível de compreensão e aproveitar aquilo que nos deixaram para nosso beneficio”.

Glossário
* “EUS”. As emoções, as sensações e os pensamentos efêmeros que tomamos como expressão de nós mesmos no momento em que ocorrem, destacando-se a sua expressão através de palavras pelo CENTRO INTELECTUAL. As pessoas têm uma quantidade enorme de “eus”, muitos dos quais são contraditórios, mas normalmente deixam de percebê-los.

*EUS DE TRABALHO: Eus que nos lembram de fazer esforços para avançarmos em nosso trabalho para o despertar.

*ESSÊNCIA. As qualidades de uma MÁQUINA humana que são herdadas no nascimento, tais como as características físicas, TIPO FÍSICO, CENTRO DE GRAVIDADE e ALQUIMIA. Na maioria das pessoas, a essência se desenvolve apenas durante os primeiros seis ou sete anos das suas vidas, após os quais ela é encoberta em grande parte pela FALSA PERSONALIDADE. Consequentemente, uma experiência da essência é com frequência acompanhada por uma sensação de liberdade pueril e de leveza. Entretanto, no caminho do despertar ensinado por Robert Burton, a essência deve ser educada e desenvolvida além desse estado infantil.

*CENTROS SUPERIORES. O centro emocional superior e intelectual superior. O centro emocional superior é capaz de perceber as conexões existentes entre todas as coisas e é a sede da compaixão e do amor consciente. O centro intelectual superior percebe as leis que governam todas as coisas e é a sede da sabedoria consciente.

*SEQUÊNCIA: É uma ferramenta dividida em seis partes, que é utilizada para que conectarmos com os nossos centros superiores.

*BE longo, última parte da Sequência

*SER INFERIOR: É a parte dentro de nós que se opõe em fazer o trabalho espiritual.