Uma
idéia que é desenvolvida e posta em prática
é mais importante do que uma idéia que existe apenas como uma idéia.
Buda
é mais importante do que uma idéia que existe apenas como uma idéia.
Buda
Lendo recentemente sobre Ananda, o devoto servidor de
Buda, fiquei impressionado com o fato
de que, apesar de Ananda ter
servido como assistente pessoal de Buda por 25 anos,
tinha uma memória prodigiosa, e foi responsável pela transmissão
de milhares de
sutras budistas - ele sabia a maioria
delas de memoria - apesar destes anos
e do conhecimento acumulado, ele
ainda tinha um trabalho interior pessoal
para fazer. Quando os preparativos para o Primeiro
Concílio Budista estavam em andamento, não muito tempo depois
da morte de Buda, houve objeções
à presença de Ananda. Foi dito que ele
tinha entrado no Caminho, no
entanto, ele ainda não tinha atingido o estado de
quem tornou-se - de acordo
com a etimologia da palavra arhat - eterno
ou imortal. De
alguma forma, todo o conhecimento
de Ananda— a enorme quantidade de sutras conhecidas
que ele tinha memorizado — não foi o suficiente. Algo mais
era necessário: a mudança em seu
ser.
Como mudar o ser é uma questão que todos nós
enfrentamos.
Podemos
estender o nosso conhecimento em qualquer uma das inúmeras direções: o estudo
da história da China, ou da arte grega, ou dos hábitos de acasalamento dos
cangurus, ou engenharia civil, ou física quântica, ou cozinhar, ou asa-delta,
ou música, ou balé, ou comércio bancário, ou sutras budistas, ou, ou ... Mas nenhuma dessas direções
necessariamente muda o nosso ser.
As idéias por si só não podem produzir a mudança de ser;
o esforço deve ir na direção correta.
P. D. Ouspensky
o esforço deve ir na direção correta.
P. D. Ouspensky
O que nós
precisamos, a fim de despertar, é um pequeno conjunto de idéias simples sobre
qual direção seguir, e depois os esforços para traduzi-lo em ser: esforços para
ser as palavras. A mudança real do
ser vem dos esforços pessoais de verificação interna, e não de mero acúmulo de
informações externas. As idéias servem como indicadores, mas a jornada e a mudança
de ser devem ser realizadas por nossos próprios esforços.
Com a finalidade de despertar para
o Presente, sempre aqui esperando
por nós, em que direção é útil estender
o nosso conhecimento? A resposta é
simples: precisamos aumentar nosso
conhecimento de
nós mesmos. Tudo se inicia a
partir daí. A pessoa que não
conhece a si mesma não pode se mover de onde está. Em Fedro
de Platão, até mesmo o grande Sócrates disse:
Ainda não cheguei a ser
capaz, como recomenda a inscrição délfica, de conhecer a
mim próprio;
e realmente parece-me ridículo não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas
que não me dizem respeito.
A escola do Quarto
Caminho nos fornece um pequeno, precioso conjunto de idéias indicadoras para seguir
com o objetivo de estudar e observar a nós mesmos: idéias como os quatro
estados de consciência, os muitos eus, a imaginação, as emoções negativas,
identificação, o falar desnecessário, e os quatro centros inferiores.
Além de
nossos esforços para estarmos presentes às nossas vidas, o trabalho começa com
a prática da auto-observação. Nós acreditamos que nos conhecemos muito bem, mas
na verdade não sabemos quase nada, porque nunca nos observamos
sistematicamente. Podemos saber, em algum momento particular, que estamos
felizes ou com fome, ou cansados, ou cainhando, ou lendo. Mas saber que estamos felizes ou lendo, em
oposição a observar a nós mesmos
enquanto felizes ou lendo—são duas
coisas completamente diferentes.
Não é estranho que o Templo de Apolo em Delfos tenha
na entrada a inscrição: Conhece-te a ti mesmo?
Por que se preocupar em colocá-la
em um local tão importante, o local mais sagrado no mundo clássico,
se todos nós nos conhecemos como a palma de nossas mãos?
Nós somos o que observa, não o
que observamos.
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
Felizmente, é
possível se observar onde quer que se esteja e o que estiver acontecendo. Nós
não precisamos de quaisquer condições especiais ou de energia especial para
fazer isso. Quando estamos doentes, podemos observar a nós mesmos estando
doentes. Quando estamos felizes, podemos observar a nós mesmos sendo felizes.
Como estamos sentados agora enquanto lemos? Qual é a nossa postura? Não temos
tensão em qualquer um dos nossos músculos? Que reação interna estamos tendo a
essas idéias?
O objetivo é
ver e observar a si mesmo de forma imparcial, como um zoologista pode observar
uma nova espécie. Isto é mais fácil de dizer do que fazer: mesmo com as
melhores intenções, frequentemente nós esqueçemos de fazê-lo, e quando observamos
a nós mesmos, muitas vezes reagimos chocados e julgando ou analisando o que vemos. O que é
necessário, na frase de Gurdjieff, é um crescendo em persistência.
Ninguém pode fazer esse trabalho
por nós. Só por
nossos próprios esforços que as
idéias- indicadoras nos levam a algo
além do nível de informação, algo
que penetra através de nossa essência e não é tão facilmente perdido.
A coisa mais notável sobre a auto-observação é que é o
começo de uma nova faculdade em nós,
que nós não nascemos com ela e não se desenvolve automaticamente. Temos de ser
ensinados a como fazê-la e trabalhar para adquiri-la. Começando com essa ajuda,
este ensinamento recebido sobre a auto-observação, é o início de um crescimento
real e mudança de ser. Uma pessoa que trabalha para observar a si mesma, mesmo por
curtos períodos, já está em um nível diferente de ser de alguém que não se
observa. Ela já está se tornando um tipo diferente de ser humano, caminhando na
tradição de Sócrates.
Você não pode despertar a menos que você tenha verificado que você está dormindo
Robert Earl Burton
Robert Earl Burton
Na série
final de seus escritos, Gurdjieff notou que as verificações que fazemos através
da auto-observação é a base necessária para o surgimento de "uma energia
de grande intensidade, com a ajuda da qual um trabalho posterior em [seu] ser é possível." Ele também observou que, embora a auto-observação seja indispensável no
começo para qualquer um que luta pela verdade, não deve se tornar o centro de
gravidade dos esforços a longo prazo. O propósito da energia gerada é alimentar
nossos esforços para lembrar de nós mesmos.
E o que
dizer do assitende de Buda? A história diz que Ananda, estimulado em seus
esforços para traduzir seu conhecimento em ser no concílio que se aproximava,
alcançou a iluminação completa na noite anterior ao citado concílio. Ele foi,
então, chamado a participar, recitando e ajudando a transmitir o grande corpo
de sutras budistas, a cada início com a famosa abertura: "Assim eu ouvi. .
".
Há dois erros que se pode fazer
ao longo da estrada para a verdade:
não ir até o fim e não começar.
Buda
não ir até o fim e não começar.
Buda
R.H.